ÚLTIMA HORA: CARTA ABERTA AO POVO MOÇAMBICANO


 

Por Graça Simbine Machel Mandela


Meus queridos compatriotas moçambicanos,

Hoje, escrevo-vos com um coração cheio de arrependimento e culpa. Durante todos estes anos, mantive-me em silêncio, cedi à cobardia e não me levantei com a força necessária para denunciar as injustiças que vos têm sido impostas. Peço-vos, do fundo do meu ser, que me perdoem por não ter sido a voz que deveria ter sido, por não ter agido quando a ação era urgente.

A FRELIMO, outrora um movimento de libertação que inspirou o mundo, transformou-se numa máquina de opressão, corrupção e morte. O partido que um dia prometeu servir o povo, hoje serve apenas a si mesmo e aos interesses de uma elite corrupta. Repudio veementemente a atuação da atual FRELIMO, que mata o povo, silencia vozes dissidentes e nega a vontade popular expressa nas urnas. Exijo que o poder seja devolvido ao legítimo vencedor, não por interesse pessoal, mas em nome da democracia que um dia jurei servir.

Não estou aqui para defender Venâncio Mondlane ou qualquer figura política em particular. Como escreveu o camarada Hélder Martins, estou aqui para defender o direito do povo moçambicano de viver em liberdade, justiça e paz. A atual liderança, encabeçada por Filipe Jacinto Nyusi e seu sucessor Daniel Francisco Chapo, é uma mancha na história do nosso país. Nyusi, Bernardino Rafael e Alberto Chipande são responsáveis por massacres, corrupção desenfreada e pela destruição das instituições do Estado. Chipande, que já está nas suas últimas, continua a orquestrar uma rede de poder que beneficia apenas a si mesmo e aos seus aliados, enquanto o povo sofre.

Não é possível que, passados 50 anos da nossa independência, continuemos a viver sob as ruínas das antigas estruturas coloniais. O colono, que julgámos ter expulsado, continua a beneficiar, de forma indireta, da má gestão do partido no poder e dos interesses particulares que dominam o nosso país. Vejam os países do Norte de África: eles estão a libertar-se das correntes que os prendem, enquanto nós continuamos a ser reféns de um sistema que nos oprime e nos nega a dignidade que merecemos.

Os novos colonizadores e a Pilhagem dos Recursos Naturais

Se não resolvermos este assunto agora, os próximos colonizadores serão os chineses, os ruandeses (com apoio da França) e outros que, com a influência portuguesa e italiana, continuarão a explorar as nossas riquezas e a humilhar o nosso povo. Não podemos permitir que isso aconteça.

Meus compatriotas, os moçambicanos não têm dívida com nenhum libertador. Cada um de nós, naquela época, teve o seu papel – seja na luta armada, seja escondendo-se da violência e dos tiroteios. Muitos morreram, deram o seu sangue, e hoje Moçambique tem um índice demográfico considerável. Mas de que adianta termos números se não temos liberdade, justiça e dignidade?

Às forças armadas e ao povo trabalhador

Aos militares de patentes médias e baixas, que sofrem humilhações e são vítimas do nepotismo que domina as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), digo-vos: agora é a hora de agir. Não esperem mais cinco anos, pois as coisas só vão piorar. Aprendam com a história de outros países e tomem o poder que vos pertence. A vossa missão é servir o povo, não os interesses de uma elite corrupta.

Trabalhadores da função pública, professores, enfermeiros e todos aqueles que sofrem sob o jugo de chefes corruptos, que são colocados no poder por nepotismo e controle partidário: a nova presidência não tem pernas para andar, pois foi erguida sobre alicerces infundados do camarada Filipe Jacinto Nyusi. A vossa força está na união. Aproximem-se dos militares que vivem nas vossas comunidades, pois são eles que verdadeiramente entendem e têm acesso à presidência.

O assassinato de Samora Machel e a corrupção estrutural

As instituições do Estado estão completamente corrompidas, sem exceção. Desde a presidência de Joaquim Chissano, que orquestrou a morte do meu amado Samora Machel, o país tem sido governado por interesses escusos. Eu tenho provas disso, e é por isso que as investigações sobre a morte de Samora foram interrompidas. Sofri ameaças, mesmo enquanto casada com o Presidente Nelson Mandela, mas nunca me calei perante a injustiça.

Povo moçambicano, não permitam que os recursos minerais que repousam sob as vossas terras – terras essas onde descansam os vossos antepassados – sejam saqueados por estrangeiros que vos humilham e exploram. Expulsem os chineses e outros que vos tratam como estrangeiros na vossa própria terra. Unam-se, vigiem e protejam o que é vosso.

A nossa última esperança: A união do povo moçambicano

Nunca, em toda a nossa história, o povo moçambicano esteve tão unido como nos últimos tempos. Essa união é a nossa maior força. Não deixem que o vosso voto desapareça, que a vossa voz seja silenciada. Lutem pelo futuro dos vossos filhos, pela honra do nome do Primeiro Presidente da República Popular de Moçambique, Samora Machel, e por um Moçambique livre e justo.

Só desmentiu só  por ter medo.

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